Mudanças climáticas

Projeções para o futuro de cada continente da Terra 

América Latina

  O IPCC também avaliou os efeitos das mudanças climáticas por regiões e, na América Latina, região com países em desenvolvimento e economia preponderantemente agrícola, prevê-se, nas áreas mais secas, que as mudanças do clima acarretem a salinização e a desertificação das terras cultivadas. A produtividade de algumas culturas importantes, bem como da pecuária, pode diminuir, com conseqüências adversas para a segurança alimentar. Nas zonas temperadas, no entanto, projeta-se um aumento, por exemplo, das safras de soja.
  Até meados do século, poderá haver uma substituição gradual da floresta tropical por savana no leste da Amazônia, em função do aumento de temperatura e à correspondente redução da água no solo. A vegetação semi-árida tenderá a ser substituída por vegetação de terras áridas. Há um risco de perda significativa de biodiversidade por causa da extinção de espécies em muitas áreas da América Latina tropical. 
  À substituição da floresta tropical por savanas dá-se o nome de savanização, o que não significa que a floresta esteja se transformando numa savana original, tal como se tem na África, ou no Cerrado, que temos no Brasil. Em termos de biodiversidade, o Cerrado é a savana mais rica do mundo e, quando a floresta está em processo de savanização, é como se fosse um processo de empobrecimento do ponto de vista biológico, ou seja, a floresta dá lugar a uma savana mais pobre. 
  Além disso, o nível do mar na região também pode provocar maior risco de inundações nas áreas de baixa altitude. Tendo em vista os possíveis aumentos da temperatura da superfície do mar, é possível a ocorrência de efeitos adversos nos recifes de corais e mudanças na localização dos estoques de peixes do sudeste do Pacífico.
  Projeta-se que as mudanças nos padrões de precipitação e diminuição, ou mesmo o desaparecimento, das geleiras na região afetem de forma significativa a disponibilidade de água para o consumo humano, a agricultura e a geração de energia.


África


  Os estudos indicam que a África é um dos continentes mais vulneráveis à variabilidade e às mudanças do clima por causa da sua baixa capacidade de adaptação. Até 2020, projeta- se que entre 75 milhões e 250 milhões de pessoas sejam expostas a uma maior escassez de água por causa das mudanças climáticas. Se
conjugada com um aumento da demanda, essa escassez afetará substancialmente os meios de subsistência e
acentuará os problemas relacionados com a água.
  Prevê-se que a produção agrícola, inclusive o acesso aos alimentos, em muitos países desse continente, fique seriamente comprometida. Pode haver uma redução em torno de 50%, até 2020, da produção da

agricultura de sequeiro, ou seja, sem irrigação artificial.
  Projeta-se uma possível redução da área adequada à agricultura, da duração das épocas de cultivo e do potencial de produção, principalmente ao longo das margens das áreas semi-áridas e áridas. Isso acentuaria os efeitos adversos na segurança alimentar e exacerbaria a má nutrição no continente.

  Com o provável aumento das temperaturas da água em grandes lagos, estima-se a redução dos recursos pesqueiros e, conseqüentemente, da oferta local de alimento. Um aumento da demanda por peixes, em função do crescimento populacional, tornará maior a probabilidade de sua escassez.
  Outros efeitos projetados para o continente estão relacionados ao nível do mar, cuja elevação, em período próximo ao final do século 21, pode afetar as áreas costeiras de baixa altitude, em geral as mais populosas.    Os manguezais e recifes de corais seriam ainda mais degradados, com conseqüência adicional para a pesca e o turismo.
  Nesse continente, os estudos apontam que o custo da adaptação aos efeitos das mudanças climáticas poderia comprometer de 5% a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) de seus países.

Ásia

  As mudanças climáticas poderão afetar a adoção de medidas voltadas ao desenvolvimento sustentável, na maior parte dos países em desenvolvimento da Ásia, uma vez que a elas se somariam as pressões sobre os recursos naturais e o meio ambiente, a rápida urbanização, a industrialização e outras ações relacionadas ao desenvolvimento econômico.
  A redução na disponibilidade de água doce no centro, sul, leste e sudeste da Ásia, especialmente em grandes bacias fluviais, juntamente com o aumento da população e a crescente demanda decorrente de padrões mais altos de consumo, poderá afetar
mais de um bilhão de pessoas até 2050.
  Além disso, os recursos hídricos poderão ser consideravelmente afetados nas próximas duas ou três décadas, com o derretimento das geleiras do Himalaia, já que o fenômeno poderá aumentar as inundações e as avalanches de pedras de encostas desestabilizadas. A isso, se seguirá a redução dos fluxos dos rios à medida que as geleiras diminuam.
  Nas regiões mais densamente povoadas, nas áreas costeiras, especialmente aquelas localizadas onde estão os grandes deltas no sul, leste e sudeste da Ásia, haverá maior risco com o aumento das inundações do mar e, em alguns casos,também com inundações dos rios.
  As safras poderão aumentar em até 20% no leste e no sudeste do continente, ao passo que poderão diminuir em até 30% no centro e no sul, até meados do século 21. Nesse caso, haverá risco à segurança alimentar, já influenciado pelo aumento da população e da rápida urbanização.
  Por conta da possibilidade de inundações e secas no leste, no sul e no sudeste, prevê-se o aumento da morbidade e da mortalidade endêmicas decorrentes da diarreia. Os aumentos da temperatura da água no litoral podem elevar a toxicidade da cólera no sul da Ásia, bem como a ocorrência da doença.

Oceania

  A região tem uma capacidade substancial de adaptação por causa das economias bem desenvolvidas e do seu nível de conhecimento técnico e científico. Mesmo assim, os desafios são grandes diante das possíveis ocorrências de eventos extremos.
  Pode, por exemplo, haver uma perda significativa de biodiversidade até 2020, em alguns locais ecologicamente ricos, inclusive na Grande Barreira de Corais e nos Trópicos Úmidos
de Queensland (Austrália). Outros locais ameaçados são o sudoeste da Austrália, as terras úmidas de Kakadu (norte do país), as ilhas sub-antárticas e as áreas alpinas da Austrália e da Nova Zelândia.
  As projeções indicam que haverá problemas na disponibilidade e abastecimento de água, que se intensificariam até 2030, em conseqüência da redução das chuvas e do aumento da evaporação, no sul e no leste da Austrália, e em algumas regiões da Nova Zelândia, no
leste e em partes do norte.
  O desenvolvimento e o crescimento populacional que ocorrem no litoral de áreas como Cairns e sudeste de Queensland (Austrália), e de Northland até a Baía da Plenitude (Nova Zelândia), podem levar a um quadro tal, relativo aos recursos hídricos e ao clima como um todo, que, muito provavelmente, levará ao aumento dos riscos de elevação do nível do mar, da severidade e da freqüência das tempestades, e também das inundações costeiras, até 2050.
  Em razão do aumento estimado das secas e dos incêndios, projeta-se que as produções da agricultura e da silvicultura sofram uma queda, até 2030, na maior parte do sul e do leste
da Austrália e em partes do leste da Nova Zelândia. Em contrapartida, nas áreas ao oeste e ao sul da Nova Zelândia, e também nas próximas aos maiores rios, projetam-se benefícios,
porque pode haver uma época de cultivo mais longa, menos geadas e mais chuvas.

Europa

  Prevê-se que quase todas as regiões da Europa sejam afetadas negativamente por alguns impactos futuros das mudanças do clima, os quais representarão desafios para muitos
setores econômicos. As diferenças regionais nos recursos e ativos naturais desse continente podem aumentar. Os impactos negativos envolvem um maior risco de inundações repentinas no interior do continente, inundações mais freqüentes no litoral e aumento da erosão. Esses eventos teriam relação com as tempestades e a elevação do nível do mar.
  A maior parte dos organismos e ecossistemas terá dificuldade de se adaptar às mudanças climáticas. As áreas montanhosas enfrentarão retração das geleiras, redução da cobertura de neve e extensas perdas de espécies. 
  Pela primeira vez, nos estudos avaliados pelo IPCC, foi
documentada uma vasta gama de impactos das mudanças do clima atuais no continente. Já se comprova que há retração de geleiras, épocas de cultivo mais longas, deslocamento
da distribuição das espécies e impactos na saúde decorrentes de ondas de calor.
  No sul da Europa, por exemplo, uma região já vulnerável à variabilidade climática, pode haver aumento na temperatura e ocorrência de secas, o que levaria à redução da disponibilidade de água, do potencial de geração hidrelétrica e da produtividade agrícola. Projeta-se, ainda, que aumentem os riscos à saúde por causa das ondas de calor e à freqüência dos incêndios florestais. No centro e no leste da Europa, é possível que a precipitação no verão diminua, provocando maiores tensões relacionadas com o abastecimento de água.
  Prevê-se uma queda na produtividade florestal e um aumento da freqüência de incêndios em áreas de turfa. No norte da Europa, as mudanças do clima podem, inicialmente, provocar efeitos mistos. Podem até mesmo ocorrer benefícios, tais como a redução da necessidade de usar aquecimento artificial nas casas, o aumento das safras e do crescimento florestal.   Entretanto, à medida que as mudanças climáticas continuarem ocorrendo, é provável que os
impactos negativos se sobreponham aos benefícios. Dentre esses impactos, projetam-se inundações mais freqüentes durante o inverno, ecossistemas ameaçados e aumento da instabilidade do solo.

América do Norte

  É possível que a produção agrícola de sequeiro, ou seja, sem irrigação artificial, aumente de 5% a 20% nas primeiras décadas do século, com a mudança moderada do clima. Culturas que já estão vivenciando o limite máximo de calor adequado à sua espécie, ou que dependem do uso intensivo de recursos hídricos, poderão sofrer mais.
  Além disso, pode ser que perturbações provocadas por pragas, doenças e incêndios tenham impactos crescentes nas florestas, com um período mais longo de riscos de incêndios e grandes aumentos da área queimada.
  O aquecimento nas montanhas do Ocidente poderá provocar redução da camada de neve, mais inundações no inverno e uma redução dos fluxos no verão, tornando ainda mais crítica
a competição por recursos hídricos já usados em excesso.
  Prevê-se que mais ondas de calor acometam cidades que atualmente já enfrentam o problema. Elas podem ser mais intensas e durar mais tempo ao longo deste século, com potencial de impactos negativos na saúde.



Regiões polares

  Os principais efeitos biofísicos projetados para as regiões polares são as reduções na espessura e extensão das geleiras e mantos de gelo. Mudanças nos ecossistemas naturais
podem apresentar efeitos danosos em muitos organismos, inclusive nos pássaros migratórios, mamíferos e predadores mais altos na cadeia alimentar. Em ambas as regiões polares, projeta-se que os ecossistemas e os habitats específicos fiquem mais vulneráveis à medida que diminuam as barreiras climáticas às invasões das espécies.
  Para as comunidades humanas do Ártico, projeta-se que os impactos, especialmente os resultantes de mudanças nas condições da neve e do gelo, sejam mistos. Entre os impactos
prejudiciais, estariam os que afetam a infra-estrutura e as formas de vida indígenas tradicionais. Entre os benéficos, estariam a redução dos custos com o aquecimento artificial e
o surgimento de mais rotas navegáveis no Mar do Norte.
  Essas comunidades já estão se adaptando às mudanças do clima, embora fatores externos e internos desafiem sua capacidade de adaptação, fazendo com que sejam necessários investimentos substanciais para adaptar ou realocar as estruturas físicas e as comunidades.

Pequenas ilhas

  As pequenas ilhas, localizadas nos trópicos ou em latitudes mais altas, têm características que as tornam especialmente vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas, tais como a elevação do nível do mar e os eventos extremos.
  Prevê-se que a deterioração das condições costeiras, como a erosão das praias e o branqueamento dos corais, afete os recursos locais, como, por exemplo, os criatórios de peixes, reduzindo o valor desses locais para o turismo.
  Com a provável elevação do nível do mar, é possível que aumentem as inundações, as marés de tempestade, a erosão e a ocorrência de outros riscos costeiros. Isso ameaçaria a infraestrutura vital dessas ilhas e de seu entorno, os assentamentos humanos e as instalações que propiciam os meios de subsistência das comunidades.
  Os recursos hídricos em muitas ilhas pequenas do Caribe e do Pacífico, por exemplo, podem sofrer redução, até meados do século. Essa redução pode se dar até o ponto em que a disponibilidade hídrica se torne insuficiente para atender à demanda durante os períodos de pouca chuva.
  Com temperaturas mais elevadas, prevê-se o aumento da invasão por espécies vegetais não nativas, em especial nas ilhas de latitudes média e alta.

Fonte: Coleção Explorando o Ensino Vol.: 13- Mudanças Climáticas



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